quinta-feira, 14 de junho de 2012

SÉRIE "TRAJES MINHOTOS"



TRAJE À VIANESA DE FESTA

O traje de Lavradeira do Minho  é dos mais vistosos de todos os trajes "à Vianesa", pela predominância do vermelho e a riqueza dos bordados, numa combinação perfeita com o preto.  É usado em dias de festas e ocasiões especiais. É por excelência o traje mais rico do Alto-Minho. O Avental, vermelho, ricamente tecido no tear, com motivos florais, figuras geométricas ou heráldicas. O Lenço da cabeça, em tons vermelhos e amarelos é apertado no alto da cabeça, com as pontas recolhidas ou em forma de “cornos” sem franjas. O Meio lenço, dos mesmos tons e desenhos do lenço da cabeça, é colocado sobre os ombros e ajustado no peito. O Colete é feito ao gosto de quem o usa, havendo uma ligação com os motivos do avental, tendo ainda assim uma grande variedade de motivos, sendo bordado a lã, vidrilhos, lantejoulas e missangas.  A camisa é de linho branco bordado a azul e a Algibeira que usam é bordada com os mesmos motivos do colete. As Meias brancas de algodão são rendadas e tricotadas à mão e as Chinelas são pretas bordadas ou lisas. A Saia é tecida em lã de cor vermelha com listas longitudinais brancas e pretas. O Ouro ao pescoço e os brincos completam e dão ainda mais riqueza a este traje.

Evolução

Os trajes de Viana do Castelo não nasceram tal qual se apresenta nos dias de hoje. Houve uma evolução, é natural, é obra inevitável do tempo. Vai-se apurando o gosto, vai-se apurando a arte de tecer e bordar. E fazendo-se estas mudanças, sem a deturpação do que é genuinamente popular. A evolução do traje, que se acentuou a partir do evento da República, não para hoje como nunca parou.
Essa modificação assentou essencialmente nas cores. Com efeito, até ao século transato os matizes escuros predominavam. Timida­mente eram usadas as cores berrantes. O vermelho entremeava, muito levemente, as riscas verticais das lavradeiras (a propósito desta cor sabe-se, por exemplo, que os açougueiros se identificavam pela sua gravata vermelha). Realmente a cor tinha muita influência. Quando em Outeiro, uma ascendente de lavrador começou por intercalar levemente o vermelho na saia foi censurada de leviandade!
Nos aventais estavam em uso os quadros na referida época (era vulgar ouvir chamar «ABANTAIS DE CADROS»), motivos geométricos.
A partir da primeira Grande Guerra surge às alterações sen­síveis no desenho dos fatos e para tal deu um certo impulso a  imagi­nosa tecedeira que deixou fama ao longo destas paragens. Era a chamada «Çãozinha da Branca», da Meadela ) que lançou modestas silvas bordadas a lã branca na parte superior da barra das saias, tira lisa de pano na parte inferior das saias, a cor variava de aldeia para aldeia e que na época mediam 18cm de altura. Com o tempo, a altura da barra foi aumentando e a sua decoração torna-se exuberante e cheia de cores. Além das singelas silvas, passam a aparecer flores, folhas de várias cores e as quais se juntam, dependendo da aldeia, lantejoulas que salpicam a barra da saia. Volvido cerca de meio século sobre o artificioso arrebique, ainda se mantém com aprazimento de tecedeiras e lavra­deiras.
Teria sido um ponto de partida para os motivos florísticos que começaram a adornar os trajes. Diga-se, entretanto, que os lenços de namorados já anteriormente exibiam além das pitorescas quadras de juramento de amor eterno, o esboço de flores.
Uma das localidades que menos se preocupou com a introdução de alterações ao padrão do seu traje foi justamente a de Areosa, cujo fato vermelho de festa é considerado o mais representativo de Viana, considerado o traje mais Vermelho dos trajes vermelhos À Vianesa. Quando se concentravam centenas de garbosas moçoilas por ocasião da festa do Traje, distinguiam-se imediatamente as de Areosa, com as suas saias de barra em vermelho vivo. Afife usa-as em azul, assim como Carreço em preto, sem silvas, mais comuns aos trajes da Ribeira Lima.

Traje à Lavradeira, à moda do Minho ou à Vianesa de Festa?
Os Etnógrafos, Pedro Homem de Mello e Cláudio Basto, este último na sua excelente monografia sobre o “Traje à Vianesa”, escreveram e falaram sobre a errada vulgarização desse termo. O traje à vianesa, à moda de Viana ou, ainda, à lavradeira (isto porque, de um modo geral, só as lavradeiras, filhas de lavradores, tinham posses para possuí-los), o legítimo e inconfundível e, por certo, o mais rico do património folclórico nacional, é somente usado em nove das trinta e seis freguesias do concelho de Viana do Castelo. É verdade, claro, que aparecem noutras localidades minhotas, trajes com poucas ou muitas afinidades, mas, flagrantemente diferentes e, em alguns casos até híbridos, dos trajes tradicionais, antigos e religiosamente talhados, que as raparigas das nove localidades vianenses enverga(va)m em dias de religiosidade ou romaria.
Confinado esse costume rigoroso apenas às aldeias litorais da Areosa, Carreço e Afife, ou limianas da Meadela, Santa Marta de Portuzelo, Pêrre, Outeiro, Serreleis e Cardielos, é curioso reparar nas diferenças essenciais que, embora em sentido restrito, classificam o traje à vianesa em tipificações distintas, delas derivando os outros. Vejamos:
O fato da Areosa, muito vivo de cores, com predomínio do vermelho (até a barra da saia é toda vermelha), também se distingue pela singeleza no lavor do avental, um tudo-nada semelhante a um tapete de vistosos ladrilhos em vários tons. O fato de Afife, esse ainda mais singelo, mas não menos interessante, ostenta barra (ou forro) da saia em tons de azul-marinho, avental simplesmente vermelho com listas pretas e lenço da cabeça em amarelo vivo ou amarelo canário e no peito o tom alaranjado. O fato de Santa Marta, de todos o mais complicado e rico, seja ele o traje azul (Dó) ou o traje vermelho, tem avental largo e comprido em flores e folhas de cores diversas, lenço franjeiro da cabeça e do peito no mesmo tipo (de fundo azul ou vermelho, conforme o fato) ou amarelo no peito com o vermelho encarnado na cabeça alguns sem franjas, coletinho intensamente bordado, barra da saia em preto, com ou sem silva. Igualmente pode-se dizer sobre os da Aldeia vizinha, Meadela, mas com pequenas diferenças nos ornatos do traje. O traje de Carreço aproxima-se bastante dos de Santa Marta, como acontece com os demais trajes usados nas freguesias que atrás se referem. Mas, um novo e interessante pormenor: muitas, muitas vezes as raparigas de Santa Marta de Portuzelo e de Carreço, vestem fatos semelhantes, havendo, no entanto, uma pequena divergência de pormenor, que basta para as identificar. É que enquanto as lavradeiras de Santa Marta ajustam, com mil cuidados, a fímbria da saia à orla inferior do colete (a parte de cima do cós da saia com a parte de baixo do colete) sem deixar intervalos entre as duas peças, já as de Afife e Carreço, e porque não mencionar também Areosa, estas usam distanciar as duas peças do vestuário, e ainda, as de Carreço, deixando uma abertura ao peito na camisa de linho...
Se bem que a distância, ao longo da beira-mar, entre Areosa e Afife, seja relativamente curta, nunca se vê uma lavradeira de qualquer desses lugares vestir o traje característico da outra freguesia. Do mesmo modo, também não obstante a proximidade, em nenhuma aldeia da margem esquerda do rio Lima, fronteiras ou próximas de Santa Marta de Portuzelo, como Vila Franca ou Mazarefes, se usa o traje típico daquela freguesia. Daí, também, em terras de Geraz do Lima, mesmo que o fato pareça de desenho idêntico ao de Santa Marta, lá prevalece o verde esmeralda a compor a diferença. Este escrúpulo e rigor estendem-se a uma infinidade de pormenores que se interligam e estreitam com uma profunda diversidade de usos e costumes que, há séculos, emergem nas ribeiras do Lima. O traje, que nos dias de hoje, tem procurado voltar as suas origens, tal como eram no séc XVII, é o Santamartense, usando as cores negras, as saias mais compridas, aventais geométricos, visualizando o preto como predominância. Enfim, o trajar “À Vianesa” não se deturpará, não morrerá, desde que saibam valorizar aos olhos das aldeãs, tarefa simples, pois elas sentem a beleza dos trajes e sabem o encanto e a graça que eles imprimem a seus corpos.
                                                                                                                 Fonte: Acácio Saraiva






Nenhum comentário:

Postar um comentário

História do Rancho Maria da Fonte