TRAJE À VIANESA DE FESTA
O traje de Lavradeira do Minho é dos mais
vistosos de todos os trajes "à Vianesa", pela predominância do
vermelho e a riqueza dos bordados, numa combinação perfeita com o preto.
É usado em dias de festas e ocasiões especiais. É por excelência o traje
mais rico do Alto-Minho. O Avental, vermelho, ricamente tecido no tear, com
motivos florais, figuras geométricas ou heráldicas. O Lenço da cabeça, em tons
vermelhos e amarelos é apertado no alto da cabeça, com as pontas recolhidas ou
em forma de “cornos” sem franjas. O Meio lenço, dos mesmos tons e desenhos do
lenço da cabeça, é colocado sobre os ombros e ajustado no peito. O Colete
é feito ao gosto de quem o usa, havendo uma ligação com os motivos do avental,
tendo ainda assim uma grande variedade de motivos, sendo bordado a lã,
vidrilhos, lantejoulas e missangas. A camisa é de linho branco bordado a
azul e a Algibeira que usam é bordada com os mesmos motivos do colete. As Meias
brancas de algodão são rendadas e tricotadas à mão e as Chinelas são pretas bordadas
ou lisas. A Saia é tecida em lã de cor vermelha com listas longitudinais
brancas e pretas. O Ouro ao pescoço e os brincos completam e dão ainda mais
riqueza a este traje.
Evolução
Os trajes de Viana do Castelo não nasceram tal
qual se apresenta nos dias de hoje. Houve uma evolução, é natural, é obra
inevitável do tempo. Vai-se apurando o gosto, vai-se apurando a arte de tecer e
bordar. E fazendo-se estas mudanças, sem a deturpação do que é genuinamente
popular. A evolução do traje, que se acentuou a partir do evento da República,
não para hoje como nunca parou.
Essa modificação assentou essencialmente nas
cores. Com efeito, até ao século transato os matizes escuros predominavam.
Timidamente eram usadas as cores berrantes. O vermelho entremeava, muito
levemente, as riscas verticais das lavradeiras (a propósito desta cor sabe-se,
por exemplo, que os açougueiros se identificavam pela sua gravata vermelha).
Realmente a cor tinha muita influência. Quando em Outeiro, uma ascendente de
lavrador começou por intercalar levemente o vermelho na saia foi censurada de
leviandade!
Nos aventais estavam em uso os quadros na referida
época (era vulgar ouvir chamar «ABANTAIS DE CADROS»), motivos geométricos.
A partir da primeira Grande Guerra surge às
alterações sensíveis no desenho dos fatos e para tal deu um certo impulso a imaginosa tecedeira que deixou fama ao longo
destas paragens. Era a chamada «Çãozinha da Branca», da Meadela ) que lançou modestas
silvas bordadas a lã branca na parte superior da barra das saias, tira lisa de
pano na parte inferior das saias, a cor variava de aldeia para aldeia e que na
época mediam 18cm de altura. Com o tempo, a altura da barra foi aumentando e a
sua decoração torna-se exuberante e cheia de cores. Além das singelas silvas,
passam a aparecer flores, folhas de várias cores e as quais se juntam,
dependendo da aldeia, lantejoulas que salpicam a barra da saia. Volvido cerca
de meio século sobre o artificioso arrebique, ainda se mantém com aprazimento
de tecedeiras e lavradeiras.
Teria sido um ponto de partida para os motivos
florísticos que começaram a adornar os trajes. Diga-se, entretanto, que os
lenços de namorados já anteriormente exibiam além das pitorescas quadras de
juramento de amor eterno, o esboço de flores.
Uma das localidades que menos se preocupou com a
introdução de alterações ao padrão do seu traje foi justamente a de Areosa,
cujo fato vermelho de festa é considerado o mais representativo de Viana,
considerado o traje mais Vermelho dos trajes vermelhos À Vianesa. Quando se
concentravam centenas de garbosas moçoilas por ocasião da festa do Traje,
distinguiam-se imediatamente as de Areosa, com as suas saias de barra em
vermelho vivo. Afife usa-as em azul, assim como Carreço em preto, sem silvas, mais
comuns aos trajes da Ribeira Lima.
Traje à Lavradeira, à moda do Minho ou à Vianesa de Festa?
Os
Etnógrafos, Pedro Homem de Mello e Cláudio Basto, este último na sua
excelente monografia sobre o “Traje à Vianesa”, escreveram e falaram sobre
a errada vulgarização desse termo. O traje à vianesa, à moda de
Viana ou, ainda, à lavradeira (isto porque, de um modo geral, só as lavradeiras, filhas de lavradores,
tinham posses para possuí-los), o legítimo e inconfundível e, por certo, o
mais rico do património folclórico nacional, é somente usado
em nove das trinta e seis freguesias do concelho
de Viana do Castelo. É verdade, claro, que aparecem noutras localidades
minhotas, trajes com poucas ou muitas afinidades, mas, flagrantemente
diferentes e, em alguns casos até híbridos, dos trajes tradicionais, antigos e
religiosamente talhados, que as raparigas das nove localidades vianenses
enverga(va)m em dias de religiosidade ou romaria.
Confinado
esse costume rigoroso apenas às aldeias litorais
da Areosa, Carreço e Afife,
ou limianas da Meadela, Santa Marta de
Portuzelo, Pêrre, Outeiro, Serreleis e Cardielos, é
curioso reparar nas diferenças essenciais que, embora em sentido restrito,
classificam o traje à vianesa em tipificações distintas, delas
derivando os outros. Vejamos:
O fato da Areosa, muito vivo de cores, com predomínio do vermelho (até a
barra da saia é toda vermelha), também se distingue pela singeleza no lavor do
avental, um tudo-nada semelhante a um tapete de vistosos ladrilhos em vários
tons. O fato de Afife, esse ainda mais singelo, mas não menos
interessante, ostenta barra (ou forro) da saia em tons de azul-marinho, avental
simplesmente vermelho com listas pretas e lenço da cabeça em amarelo vivo ou
amarelo canário e no peito o tom alaranjado. O fato de Santa Marta, de
todos o mais complicado e rico, seja ele o traje azul (Dó) ou
o traje vermelho, tem avental largo e comprido em flores e folhas de cores
diversas, lenço franjeiro da cabeça e do peito no mesmo tipo (de fundo azul ou
vermelho, conforme o fato) ou amarelo no peito com o vermelho encarnado na
cabeça alguns sem franjas, coletinho intensamente bordado, barra da saia em
preto, com ou sem silva. Igualmente pode-se dizer sobre os da Aldeia
vizinha, Meadela, mas com pequenas diferenças nos ornatos do traje. O traje
de Carreço aproxima-se bastante dos de Santa Marta, como acontece com
os demais trajes usados nas freguesias que atrás se referem. Mas, um novo e
interessante pormenor: muitas, muitas vezes as raparigas de Santa Marta de
Portuzelo e de Carreço, vestem fatos semelhantes, havendo, no entanto, uma
pequena divergência de pormenor, que basta para as identificar. É que enquanto
as lavradeiras de Santa Marta ajustam, com mil cuidados, a fímbria da
saia à orla inferior do colete (a parte de cima do cós da saia com a parte de
baixo do colete) sem deixar intervalos entre as duas peças, já as de Afife
e Carreço, e porque não mencionar também Areosa, estas usam distanciar as
duas peças do vestuário, e ainda, as de Carreço, deixando uma abertura ao peito
na camisa de linho...
Se bem que a
distância, ao longo da beira-mar, entre Areosa e Afife, seja
relativamente curta, nunca se vê uma lavradeira de qualquer desses lugares
vestir o traje característico da outra freguesia. Do mesmo modo, também não
obstante a proximidade, em nenhuma aldeia da margem esquerda do rio Lima,
fronteiras ou próximas de Santa Marta de Portuzelo, como Vila
Franca ou Mazarefes, se usa o traje típico daquela freguesia. Daí, também,
em terras de Geraz do Lima, mesmo que o fato pareça de desenho idêntico ao
de Santa Marta, lá prevalece o verde esmeralda a compor a diferença. Este
escrúpulo e rigor estendem-se a uma infinidade de pormenores que se interligam
e estreitam com uma profunda diversidade de usos e costumes que, há séculos,
emergem nas ribeiras do Lima. O traje, que nos dias de hoje, tem procurado
voltar as suas origens, tal como eram no séc XVII, é o Santamartense, usando as
cores negras, as saias mais compridas, aventais geométricos, visualizando o
preto como predominância. Enfim, o trajar “À Vianesa” não se deturpará, não
morrerá, desde que saibam valorizar aos olhos das aldeãs, tarefa simples, pois
elas sentem a beleza dos trajes e sabem o encanto e a graça que eles imprimem a
seus corpos.
Fonte: Acácio Saraiva