História – Maria da Fonte
No início dos anos cinqüenta do século XX, por força das circunstâncias, a Casa do Minho, de exclusivamente beneficente passou também a recreativa.
Os Srs. Antonio Pedreira e Domingos da Costa e Silva procuravam atrativos para incrementar a vida associativa.
Inspirado no grupo de danças regionais que a Casa dos Poveiros havia fundado, o Sr. Antonio Pedreira idealizou organizar algo parecido. Elza e Nilza, filhas do Sr. Pedreira, empolgaram-se com a idéia, convocaram os vizinhos, moças e rapazes da rua General Caldwell. A novidade propagou-se e outros jovens acorreram da Rua Riachuelo e do Catumbi.
Para ensaiar a rapaziada foi consultada a fadista e radialista Maria Amado, que mantinha o popular programa Duas Pátrias, na rádio Vera Cruz. Esta artista indicou o seu colaborador no programa, Sr. Antonio Fonseca, sapateiro de profissão com pendores de musicista e coreógrafo. Aceitou o convite e com a colaboração da própria Maria Amado e de João Campos, outro radialista português, deu início aos ensaios. Ao empenho do Sr. Fonseca deveram-se não só as evoluções e cantigas como o bonito hino “Adeus ao Minho”, letra e música, que ainda na atualidade encerra as exibições do Rancho Maria da Fonte.
A atividade das moças era frenética na confecção das roupas. Idealizaram um traje que mais parecia vestimenta cigana. Só os lenços, da cabeça e dos ombros eram autênticos de Viana do Castelo. Carregavam nas mãos um pandeiro que fazia parte da coreografia. Os rapazes usavam na cabeça carapuças características dos Campinos do Ribatejo. A Elza e a Nilza com a colaboração da componente Suely confeccionaram um maravilhoso estandarte com o emblema da Casa.
O repertório resumia-se a evoluções em compasso de marcha no estilo dos desfiles populares de Lisboa, ao som de um acordeão das canções entoadas pelos próprios componentes.
Foi considerado pronto e sua estréia deu-se em 18 de dezembro de 1954, data da fundação. Anunciada nos jornais, a novidade levou grande público à sede da Rua Conselheiro Josino, superlotado o salão. A assistência não regateou aplausos. Mesmo com o sucesso alcançado os responsáveis, Sr. Pedreira e Sr. Silva, diretores sociais, achavam que faltava alguma coisa. Uma tocata foi organizada com acordeonista, bombo, ferrinhos e reco-reco. O Sr. Antonio Fonseca afastou-se e em seu lugar, como ensaiador, assumiu o Sr. Neca Marques que imprimiu novas características coreográficas com alguma originalidade minhota.
Em 1956 Benjamim Pires e sua esposa Fernanda, oriundos da Freguesia de Carreço, passaram a integrar o grupo e a mudança foi radical. As músicas e danças genuínas da região de Viana do Castelo passaram a ser o repertório do grupo folclórico. Na mesma época Bernardino Alves dos Reis com seu violino, sua esposa Ana e suas três filhas aumentaram o patrimônio artístico e familiar da Casa do Minho.
Assumiu o Bernardino o comando da tocata que ganhou novos elementos: concertinas, cavaquinho, viola, clarineta e mais acordeões.
Em 1959 vem ao Brasil o renomado Grupo Folclórico de Santa Marta de Portuzelo que muito influenciou o grupo da Casa do Minho, não só pela recolha de diversas músicas para o seu repertório como também pela forma imponente de suas apresentações.
No mesmo ano resolveram que o grupo deveria designar-se Rancho. O Sr. Silva viajou a Portugal e em Viana do Castelo encomendou os primeiros trajes característicos para as moças. Poucos meses depois chegaram e foi uma nova fase de sucesso.
A Dona Odete, esposa do tesoureiro Sr. Alberto Igrejas, sugeriu que o Rancho se denominasse Maria da Fonte, nome que representava a bravura das mulheres do Minho. Aceita a sugestão, foi simbolicamente batizado, e sua madrinha foi a cantora Maria da Graça.
Em 1982, na gestão do presidente Agostinho dos Santos, ex- integrante do Maria da Fonte, o Rancho faz a sua primeira digressão a Portugal com o objetivo principal de mostrar a Região do Minho aos componentes, já em sua maioria brasileiros, que com tanta dedicação ajudavam a divulgar aqui no Brasil. Também se tinha como intenção mostrar aos portugueses que havia um grupo que divulgava o folclore minhoto em terras do Brasil. A representação autêntica do folclore apresentado pela Casa do Minho acabou por derrubar com os preconceitos dos minhotos com relação a grupos folclóricos oriundos do Brasil, tendo Viana do Castelo aberto as portas para o Maria da Fonte nas outras digressões que ocorreram em 1991 e 1995, esta última na gestão do presidente Joaquim Fernandes.
No final da década de oitenta e, principalmente, na década de noventa a Casa do Minho recebeu diversos grupos folclóricos minhotos, dentre eles, o Grupo Folclórico das Lavradeiras da Meadela, o Grupo Etnográfico das Lavradeiras de Carreço, o Grupo Etnográfico da Areosa, o Rancho Regional das Lavradeiras de Carreço e o Grupo Folclórico da Casa do Povo de Lanheses, que permitiu, juntamente com as idas do Rancho à Portugal, um aprimoramento cada vez mais constante da autenticidade do folclore apresentado pelo Maria da Fonte.
Durante quase quarenta anos o Benjamim foi o grande propulsor do Rancho Maria da Fonte como ensaiador ou supervisor. Outros nomes se sucederam como ensaiadores, todos discípulos do mestre Benjamim. O número de componentes, moças e rapazes, que nestes cinqüenta e seis anos integraram o grupo folclórico, é incalculável. Foram várias gerações que defenderam as danças populares portuguesas da Província do Minho.
Ao longo destes cinqüenta e seis anos de atividades ininterruptas, o Rancho Maria da Fonte efetuou apresentações em todo o Brasil e Portugal, especialmente em reconhecidos festivais nacionais e internacionais, para autoridades brasileiras e portuguesas e em programas televisivos e casas de espetáculos. Mantém um rico acervo de vestimentas com mais de 130 trajes femininos completos, desde o chamado traje de noiva até o de trabalho, e sua discografia inclui quatro gravações realizadas de seu repertório.
O Rancho Folclórico Maria da Fonte sem dúvida é um dos mais representativos grupos folclóricos fora de Portugal, quer por suas danças e seus cantares, quer pela sua indumentária rica e autêntica da região minhota, o que lhe tem rendido diversas admirações por onde passa.
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